por Glauber Ataíde.
A literatura de autoajuda vem reforçando um mito segundo o qual a mulher é "mais inteligente" ou "mais culta" que o homem. Talvez isso esteja baseado em estatísticas sobre o número de mulheres que cursam o ensino superior comparado com o de homens, ou coisas assim. Mas a conclusão que costumam tirar disso - que a mulher tenderia muito mais "naturalmente" que o homem aos livros e aos estudos - é uma extrapolação de todas as evidências.
A ideia que vem se passando nessa cultura de massas é sempre da mulher como ser "sensível", que gosta de ler, que cultiva sua vida interior, enquanto que o homem é um bruto, que gosta de atividades físicas, de motor de carro, cerveja e futebol. E desses estereótipos temos a oposição mulher-culta-evoluída versus homem-bruto-primitivo.
Daí que, tendendo a mulher "naturalmente" para a cultura e para a erudição, ela então supostamente gostaria de homens que sejam "inteligentes". E alguns livros de autoajuda chegam a colocar o quesito "inteligência" entre os três primeiros fatores que decidem a escolha de uma mulher por um determinado parceiro.
Mas vamos confrontar o mito com a vida real. Para isso vou partir do terreno de minha própria experiência, certo de que não é uma leitura isolada.
Dentro dos meus círculos de convívio, pelo menos, observo que os homens são tão inteligentes quanto as mulheres. Alguns mais, outros menos. Mas nada nunca me fez nem sequer suspeitar de que as mulheres sejam mais "inteligentes" que os homens. E entendo inteligência, em todo este texto, como uma faculdade intrinsecamente ligada ao acúmulo de cultura e erudição.
Em segundo lugar, em quase todos os círculos que frequento - com excessão da universidade e dos movimentos sociais - as mulheres são de uma frivolidade ridícula, tanto quanto seus pares homens. O que costumam ler, quando leem, é porcaria. São best-sellers. (Eis aí um critério para escolha de livros: não perca tempo com best-sellers).
Façamos um exercício de experimentação imaginativa. Visualize uma dessas mulheres fúteis, comuns - telespectadoras do Big Brother e que eu nunca ouvi conversando nada de sério por mais de 2 minutos - tentando conversar com um homem realmente culto, inteligente e erudito. O resultado não será uma conversa, mas uma palestra (essa de 5 minutos, no máximo).
Falemos de política com ela, e ela desviará o assunto para a corrupção (é o que ela sabe repetir, pois a mídia hegemônica pauta a política apenas em termos morais, típico da direita, como se isso fosse o maior problema da política brasileira). Tentemos falar de música erudita, mas ela só ouve indústria cultural. Vamos falar de Filosofia, mas ela só conhece religião. Vamos falar de Psicanálise, mas ela só conhece autoajuda. Vamos falar de arte, cinema, pintura, ópera, mas... isso é tudo tão... chato!
Então, o que eu penso sobre esse assunto é o seguinte: as mulheres gostam de homens que tenham um nível intelectual próximo ao seu, and that's all (como diria o Oscar Wilde). Nem muito acima, nem muito abaixo. Assim, só mulheres inteligentes gostam de homens inteligentes. Mulheres fúteis, rasas, esvaziadas, geralmente não se darão bem com homens inteligentes, e por isso buscam alguém mais próximo do seu próprio perfil.
Sêneca, filósofo romano, inclusive disse algo que pode ser apropriado neste contexto, e que mostra por que a compatibilidade de "inteligência" e erudição não pode ser um dos principais critérios para a escolha de um parceiro: é que "a relação com pessoas diferentes demais de nós perturba o nosso equilíbrio", e não o contrário.